This is a most magnificent interview with journalist and writer Manuel Tomás from the island of Pico, published in Diário Insular from Terceira Island. A poet, a novelist, a journalist, a teacher, and a cultural icon in Pico Island and throughout the Azores, Manuel Tomás brings to the forefront some of the main concerns that those who are committed to the Azores and to Democracy are fearful of. 

Do que ouviu, viu e leu até agora da pré campanha eleitoral, conseguiu perceber alguma proposta que considere importante para o futuro dos Açores?

Parei, olhei e não vi nada que me tivesse impressionado, além de alguma pobreza de ideias e a estafada repetição dos mesmos temas que costumam estar presentes nestas ocasiões. Neste tempo de debate político, em grande parte cheio de vacuidades e de fanatismo irracional de ódios estultos, espero ainda que haja um debate sério sobre o estado em que os Açores se encontram, no que às diversas manifestações de pobreza diz respeito, tal como foi devidamente acentuado pelo Manifesto pelo Desenvolvimento Humano e por uma Ideia de Futuro da Região Autónoma dos Açores.
.

A campanha eleitoral oficial está a porta. Espera uma mudança de atitude dos partidos e coligações? Mais atividade? Mais agressividade? Mais ideias para o nosso futuro coletivo?
Gostava de assistir a uma mudança fundamental na apresentação de propostas sérias e viáveis, de consequências imediatas, que visassem a transformação da vida de grande parte de açorianos que continua a permanecer muito atrasada no desenvolvimento que a falta de escolarização, por exemplo, demonstra e a recuperação demora demasiado temo em tornar-se presente. E não é só a perceção desta falta, é apenas um exemplo fundamental, é tudo o que, ao desenvolvimento de massa crítica, representa e as implicações que tem na qualidade de vida dos açorianos. Os índices de desenvolvimento humano indicam que esta é uma Região que, mesmo num país com muitas dificuldades de desenvolvimento, e a ser ultrapassado por cada vez mais novos membros da União Europeia consegue, ainda assim, destacar-se pela negativa e os milhões de euros distribuídos não atingiram os resultados que 48 anos de autonomia deviam ter alcançado. Como é possível que, 50 anos depois da liberdade ter sido conquistada em Portugal e o acesso à democracia conseguido, ainda haja gente que não sabe ler nem escrever e, consequentemente não possa ter acesso a uma profissão digna que possibilite a qualidade de vida que todos deviam ter?

A proliferação de forças políticas no parlamento pode levar à ingovernabilidade. Parece-lhe adequado contornar esse problema por exemplo acabando com o círculo de compensação ou impondo uma percentagem mínima de votos para ter acesso á eleição de deputados, como acontece na Alemanha?

Nunca tinha visto, nem a seguir ao 25 de Abril de 1974, tanta organização política a concorrer a eleições e preocupa-me o facto de algumas serem extremistas, mas é um sinal dos tempos e os tradicionais partidos fundadores da democracia conquistada em 1974, não de podem eximir às responsabilidades, pois têm esquecido algumas coisas importantes, como seja ouvir as pessoas e as suas queixas, além de não terem sabido utilizar as redes sociais que, parece, estão a ser capturadas pelos extremos, sobretudo, de direita, e é lá que habitam muitos jovens “guiados” pelas novas tecnologias. A proliferação de organizações, algumas lideradas por gente que nem por cá anda, faz com que algumas escolhas sejam uma tristeza e inadequadas e até motivo de chacota porque quem é de fora não tem um conhecimento verdadeiro da realidade local.
Noutra perspectiva, devo dizer que nunca entendi a verdadeira razão de haver um círculo de compensação. Se há um círculo por ilha, com significativas diferenças no respeitante ao número de eleitores, o que veio acrescentar esse círculo? Mais deputados num parlamento, já excessivamente povoado, melhora a qualidade da democracia? Aumentar a despesa pública, aumenta, acrescentar qualidade, não tenho dado por isso! Não é fácil alterar a lei eleitoral nos Açores, por serem 9 ilhas. Todas devem estar representadas, mas quando se ganha, naturalmente, por ter mais votos, se a maioria de uma ilha se exprime num sentido, por que tem de haver tantas representações, quando os eleitores são diminutos? Por um voto se ganha, por um voto se perde! É a democracia!

Em sua opinião, quais problemas são hoje existenciais e que podem comprometer o nosso modelo político? Como atacálos?

R: Volto ao Manifesto pelo Desenvolvimento Humano e por uma Ideia de Futuro da Região Autónoma dos Açores e subscrevo o que lá se diz e apelo a que seja tido na devida consideração. Espero que os partidos e coligações concorrentes sejam capazes de ler a mensagem e de saber e querer encontrar uma resposta adequada para o desenvolvimento da Região. E permitam-me que cite: “E´ urgente que os Açores sejam capazes de enfrentar, sem sofismas, os desequilíbrios que estes primeiros 48 anos de exercício autonómico não resolveram, promovendo o combate sistemático à pobreza e à desigualdade numa lógica personalista, inclusiva e propiciadora de mobilidade social, da inversão das tendências na educação e do aumento da esperança média de vida.” No Pico, os temas fortes continuam a ser os mesmos: saúde, aeroporto, porto comercial, e os incomodativos maus cheiros do Porto Velho da Madalena, que ninguém aborda, mas incomoda toda a gente que por aqui anda. Outra questão que gostaria de ver tratada pelos concorrentes é a da situação precária da comunicação social privada nos Açores. Uma autêntica espécie em vias de extinção, como já aconteceu neste início de ano, no Faial. Houve uma tentativa, mal anunciada, de um substituto do PROMÉDIA, mas tudo o vento levou e ficámos a ver navios que não passaram. Se a RTP e a RDP são pagas pelo Estado e os jornalistas são independentes e sérios no seu trabalho, por que razão não podem as empresas ter um apoio equivalente no que diz respeito às suas despesas de funcionamento, incluindo os salários, até para haver igualdade entre profissionais? Com transparência tudo é possível e a democracia ficará a ganhar. Inventar apoios à leitura é utopia vazia.

in Diário Insuar, José Lourenço-director

Translated to English as a community outreach program from the Portuguese Beyond Borders Institute (PBBI) and the Modern and Classical Languages and Cultures Department (MCLL) as part of Bruma Publication and ADMA (Azores-Diaspora Media Alliance)  at California State University, Fresno–PBBI thanks the sponsorship of the Luso-American Development Foundation from Lisbon, Portugal (FLAD)

A link to the Manifesto that Manuel Tomás referred to in the interview